or: MAURÍCIO GONÇALVES - REPÓRTER
O zumbido não saía da cabeça. A apicultura chegou à vida de
Pedro Acioli como uma ideia intermitente a martelar o pensamento. A harmonia
com a natureza, a organização e a produtividade das abelhas não paravam de lhe
picar o juízo. A consciência ambiental, ele herdou do pai e do avô, que sempre
mantiveram trechos nativos de Mata Atlântica na fazenda Pedras de Fogo, desde
os idos de 1921. Só que as abelhas exigiram um pouco mais.
O engenheiro agrônomo investiu numa minuciosa pesquisa para
identificar espécies da flora que aumentem a produção das colmeias da região.
Com o chamado estudo apibotânico nas mãos, Pedro já plantou mais de 8 mil
árvores e hoje colhe os frutos, com o faturamento líquido e certo de uma
tonelada de mel por ano. Com um detalhe: a extração dessa quantidade toda
acontece em apenas quatro ou cinco noites.
A meta agora é plantar duas mil árvores por ano e dobrar as
vendas até 2013. Nos próximos anos, a produção deve subir como o voo nupcial da
abelha rainha. “Numa pequena propriedade como a nossa, você tem que
diversificar porque as escalas de produção são pequenas”, sugere Acioli.
A principal atividade na fazenda de 90 hectares ainda é o
gado, mas o agropecuarista varia a criação de bovinos, ovinos e equinos com a
fruticultura e a apicultura. Segundo Pedro, as abelhas geram uma excelente
produção complementar, inclusive agregando valor ao laranjal, com melhoria na
qualidade dos frutos e aumento de 40% na safra.
“Com o estudo apibotânico, identificamos através do pólen
contido no mel quais as plantas que as abelhas dão preferência”. O pólen serviu
como uma espécie de impressão digital das abelhas para apontar o potencial
econômico de árvores como o mulungu, que era muito usado para gamelas e
utensílios domésticos, mas caiu em desuso com o advento do plástico.
Só que a flor do mulungu é uma das preferidas pelas abelhas,
e Pedro investiu nele como cerca natural. Além de economizar com estacas e
arame, ele reforça a produção das colmeias. Outras plantas já conservadas pelo
avô também se destacaram, como o juazeiro, o cajá, que faz a abelha produzir
muito mais, e a sabiá, que também serve para fazer mourão de cerca e cujos
galhos são usados como estacas na cultura do inhame.
O aumento da biodiversidade na região fornece matéria-prima
para as operárias o ano inteiro, já que as florações ocorrem em períodos
diferentes.
Como o gado bovino exige cerca de dois anos para gerar
lucro, Acioli cria receitas em outros ramos, como o ovino (com rotatividade de
seis a sete meses) e o equino, inclusive com adestramento de cavalos.
Com esta mentalidade, a apicultura caiu como uma luva.
Inclusive as pesquisas realizadas e a expertise adquirida devem gerar novo
faturamento. “Queremos criar um apiário-escola, com aulas de educação ambiental
para alunos de escolas, capacitação para produtores rurais, turmas do campus
avançado da Ufal em Viçosa e área de treinamento para apicultura e
desenvolvimento sustentável”.
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