País perdeu cinco posições no ranking mundial. Abandono das colmeias nos estados nordestinos chegou a 60%. Taxa de desaparecimento de abelhas chegou a 90% em outros estados brasileiros.
O Brasil caiu da 5ª para a 10ª colocação mundial em exportação
de mel nos últimos dois anos. O motivo foi o abandono das colmeias na região
produtora mais importante do país, o Nordeste. Em 2012, alguns estados
registraram queda de 90% na produção e o abandono de colmeias chegou a 60%.
"A queda no Nordeste reflete diretamente nas exportações nacionais de mel.
A região é uma das maiores produtoras e exportadoras do país" explica
Maria de Fátima Vidal, coordenadora de estudos e pesquisas do Etene (Escritório
Técnico de Estudos Econômicos do Nordeste).
Cerca de 46 mil pequenos apicultores em nove estados
nordestinos vivem da atividade e, juntos, respondem por 40% da produção de mel
no país – em épocas com índice normal de chuva. Por trás do sumiço das abelhas
está a seca que atinge a região há pelo menos 24 meses.
Além das alterações climáticas, bactérias e uso de
agrotóxicos são citados como causas da mortalidade das abelhas no Brasil. Mas a
falta de documentação sobre o desaparecimento de enxames dificulta o trabalho
de controle e monitoramento da situação.
O Banco do Nordeste prevê que o problema não deve melhorar
até 2015. Neste ano, as perspectivas de pouca chuva estão se confirmando e,
para o próximo, mesmo que haja precipitação normal, a recuperação das colmeias
deve ser lenta. "Isso ocorre porque o período de chuvas no Nordeste é
curto sendo que, quando ocorrem as floradas, os novos enxames primeiro puxam
cera e fortalecem as famílias e, somente depois, no final do período chuvoso, é
que começam a produzir mel", afirma Vidal, em artigo assinado pela Etene,
órgão do Banco do Nordeste.
Santa Catarina bate recorde depois de perda histórica
Os produtores de Santa Catarina também sofreram com o
desaparecimento dos insetos. Em 2011, pior ano, segundo a Empresa de Pesquisa
Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri), o estado produziu
cerca de 4 mil toneladas, enquanto a média anual é de 6 mil. "Muitas
famílias deixaram a apicultura", lembra Walter Miguel, engenheiro gerente
do Centro de Desenvolvimento Apícola da Epagri.
Cerca de 30 mil famílias atuam na atividade no estado do Sul
e são responsáveis por cerca de 300 mil colméias. Em 2011, o desaparecimento de
abelhas chegou a quase 100% em algumas regiões. A floração de culturas como
maçã e pêra foi prejudicada por causa da ausência das abelhas. "Estima-se
que mais de 10% da produção agropecuária tenha sido comprometida pela falta das
polinizadoras", destaca Miguel. Nessa parte do Brasil, o frio foi um dos
principais motivos que ocasionou o sumiço dos insetos.
Após ações de manejo e orientação dos apicultores, as
abelhas retornaram e a produção bateu recorde na última safra: 7 mil toneladas.
Além do frio intenso, doenças, manejo inadequado e uso de agrotóxicos
contribuíram para a queda da produtividade e sumiço dos insetos. Situação que
preocupa pesquisadores, entidades governamentais e apicultores de todo o
Brasil.
Síndrome do Colapso das Abelhas
Em países como Estados Unidos, Canadá, Japão, Índia e em
nações da União Europeia, o problema é caracterizado como Síndrome do Colapso
das Abelhas (CCD, sigla em inglês para Colony Collapse Disorder). Trata-se de
um abandono repentino e massivo de colmeias. A situação é grave e, em estados
norte-americanos chegou a comprometer a produção agrícola, já que a floração é
feita quase que exclusivamente através desse inseto. De acordo com a
Confederação Brasileira de Apicultura (CBA), entre 2007 e 2008 aquele país
perdeu cerca de 1 milhão de abelhas.
"Hoje, sabe-se que elas desempenham um papel
fundamental na agropecuária. Cerca de 80% de tudo o que é consumido no mundo é
polinizado pelas abelhas. A ausência delas reflete-se com impacto direto sobre
a agricultura", afirma Walter Miguel, engenheiro agrônomo gerente do
Centro de Desenvolvimento Apícola da Epagri.
Agrotóxicos estão entre as causas do sumiço de enxames
Márcio Freitas, coordenador geral de avaliação de
substâncias tóxicas do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis (Ibama), explica que até o momento há dois casos que se
assemelham com CCD no país, em São Paulo e Minas Gerais.
Segundo o especialista, a falta de dados concretos de todas
as regiões brasileiras compromete a análise das causas do desaparecimento das
abelhas. "Como em muitas regiões do país, a apicultura não ocorre de forma
organizada, por isso, muitos casos de desaparecimento não são documentados. Há
cerca de cem casos informados ", comenta Freitas.
Apesar de descartar o CCD, o Ibama indica que os defensivos
agrícolas estão entre os três principais causadores do desaparecimento de abelhas
no Brasil. Eles matam os insetos imediatamente após a aplicação ou afetam seu
sistema sensor, fazendo com que ele não consiga retornar à colmeia,
enfraquecendo o enxame.
Desde 2010, a entidade analisa três tipos de
neonicotinóides, defensivos agrícolas apontados por estudos internacionais como
causadores deste fenômeno. Caso se confirme os efeitos nocivos, medidas mais
rigorosas para proteger os insetos devem ser adotadas. A expectativa é que, até
2014, os primeiros resultados conclusivos estejam prontos. Em 2012, uma
portaria do Ibama restringiu o uso destas substâncias durante o período de
floração.
Em abril de 2013, 15 dos 27 países da União Europeia
suspenderam o uso desses defensivos agrícolas. José Cunha, presidente da CBA,
garante que existe um esforço conjunto entre os órgãos apícolas e o setor
agrícola para mitigar os efeitos dos agrotóxicos sobre os polinizadores.
"O Brasil não pode se desenvolver sem o agronegócio e o meio ambiente não
vive sem os polinizadores", analisa, Ele enfatiza que, se forem adotadas
medidas de fomento e proteção à atividade, a produção anual pode pular de 50
mil para 200 mil toneladas no país.
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