terça-feira, 6 de março de 2012

Estiagem colabora para uma supersafra de mel.


Autor: Rafael Vigna
Enquanto alguns dos principais produtores de mel no País sofrem com as intempéries climáticas, apicultores gaúchos consideram as condições de estiagem determinantes para consolidar mais uma supersafra
Enquanto alguns dos principais produtores de mel no País sofrem com as intempéries climáticas, apicultores gaúchos consideram as condições de estiagem determinantes para consolidar mais uma supersafra no Estado.







 “Quanto mais seca, mais mel”, resume o tesoureiro da Associação dos Apicultores de Panambi e Região, Vanderlei Graeff.  Com estimativas de perdas rondando os 50%, Piauí e São Paulo, dois dos maiores exportadores nacionais, contabilizam as quebras em razão da seca ou do excesso de chuvas e se preparam para a inevitável alta dos preços. No Rio Grande do Sul, microrregiões devem aumentar em até 150% a coleta a partir de março e comemoram os ganhos de qualidade em uma produção que pode superar a casa das 8 mil toneladas no ciclo de verão 2012.

O município de Cambará do Sul projeta encerrar a colheita do mel, em abril, com produção 150% superior à da última safra. O aumento previsto pela Emater-RS, de 60 toneladas em 2011 para 150 toneladas em 2012, se deve ao comportamento do clima. “Registramos frio na época certa (inverno), e no período de floração (primavera) o tempo colaborou com condições favoráveis à produção de pólen e néctar”, detalha o técnico da entidade, Neimar Fonseca e Silva. Com 42 mil hectares de mata nativa, a cidade tem 120 famílias envolvidas em uma produção diferenciada. A diversidade de florações permite a extração de mel de flores silvestres, tanto o branco quanto o amarelo, e também o melato.

Formada por 45 associados e cerca de 4 mil colmeias, a associação de Panambi espera coletar 100 toneladas até o final de abril. Segundo Vandeleri Graeff, parte do incremento é justificado pela seca, que assola as demais culturas no Rio Grande do Sul. Isso porque as chuvas esparsas favorecem a floração e o clima seco mantém as flores polinizadas por muito mais tempo, aumentando a produtividade das abelhas. “Assim foi possível ampliar o período de colheita até fevereiro, quando o normal seria encerrar esta fase em dezembro. Além disso, a falta de umidade qualifica o produto final”, afirma o apicultor.

Na região, a colheita tem se mantindo em torno de 50 kg por colmeia. Há casos de até 70 kg por caixa, mais do que o dobro da média da gaúcha, fixada em 30 kg.  O presidente da Federação Apícola do Rio Grande do Sul,  Silvio Lengler, destaca que ainda há perspectiva de redução na produção, entretanto, bastante localizada.

Em Santa Maria, na Depressão Central, Lengler conta que só no mês passado fevereiro foram capturados oito enxames, por meio de uma parceria com a prefeitura para retirar abelhas da área urbana. Em cinco meses, foram mais de 400 enxames. De acordo com ele, 200 estão em plena atividade e já produziram cerca de 4 mil kg de mel, o que colabora para o avanço dos índices na região. “Isso também serve como prenúncio de uma boa safra de verão”, revela.

Mesmo nos municípios mais atingidos pela estiagem, a expectativa é equilibrar as contas e recuperar os estragos da primavera quando a formação de geadas determinou até 80% de prejuízos na coleta de outubro.  Em Bagé, o presidente da Associação Bageense de Apicultores, Arley de Oliveira Jardim, garante que a cultura passará ao largo de uma supersafra. No entanto, a ideia é equiparar os estragos que chegaram a 70% em 2011.

O presidente da Confederação Brasileira de Apicultura (CBA), José Cunha, atesta a supersafra gaúcha de mel. Para ele, a produção em 2012 pode superar as 8 mil toneladas, 2 mil toneladas a mais do que no ciclo passado. Ainda assim, o resultado será insuficiente para alcançar a marca de 11 mil toneladas, meta traçada de olho no desempenho do vizinho Uruguai.

Além do clima, Cunha ressalta o processo de qualificação do setor, iniciado em 2008, após o embargo da União Europeia aos produtos do País. Desde então, trabalhos conjuntos com entidades como o Sebrae, o Senai e a Emater, criaram certificações sanitárias, profissionalizaram os processos e, por consequência, aumentaram o potencial produtivo em todo o País.

Estado quer ampliar consumo interno e fatia das exportações

O Brasil ocupa a sétima colocação no ranking global de exportadores de mel. Com produção média de 40 mil toneladas por ano, o País está muito distante de alcançar o topo do pódio, ocupado pela China com 140 mil toneladas, e até mesmo de ameaçar a vizinha Argentina, com 90 mil toneladas. No cenário nacional, o Rio Grande do Sul lidera a lista dos produtores, seguido de perto por São Paulo.

No entanto, no mercado externo, pode perder a terceira posição para Santa Catarina e não deve superar tão rápido o líder Piauí, que ultrapassou São Paulo, em julho de 2011, ao contabilizar vendas externas de 595 toneladas, o equivalente a US$ 1,9 milhão. No mesmo período, o Estado embarcou apenas 230 toneladas, com rendimento de US$ 736 mil.

“Apesar de liderar a produção no Brasil, o Rio Grande do Sul não figura entre os principais exportadores. Apenas 2 mil toneladas são destinadas às vendas externas e o restante abastece o mercado interno. Há planos para ampliar os embarques, mas as questões cambiais acabam atravancado o desempenho gaúcho”, destaca o presidente da Confederação Brasileira de Apicultura (CBA), José cunha.

Outro empecilho para o setor, segundo José cunha, é o baixo consumo interno. Enquanto na Europa e nos Estados Unidos a média per capita passa de 1,5 kg por ano, no Brasil ainda está na casa dos 103 gramas. Por isso, a inclusão do mel na merenda escolar da rede pública de ensino é uma demanda prioritária do setor. Em alguns municípios produtores, como em Panambi, isso já é uma realidade e quase 5% da produção local é destinada às escolas.

Fonte: Jornal do Comércio, publicada em: 06/03/2012

Um comentário:

  1. Este texto destacado é para aproveitar uma observação sobre o tema e a foto, o tema relata a estiagem no sul, o que aproxima a condição do que vivem os apicultores na região Nordeste do país,clima seco, permitindo com que as abelhas trabalhem todos os dias desde os primeiros rainhos de sol até o anoitecer, não é atoa que a safra será maior este ano e o NE esta batendo um recorde atrás do outro em produtividade.


    A foto acima retrata a condição que enfrentamos para produzir mel aqui no litoral paulista, o terreno úmido, encharcado o ano todo mesmo sem chuvas ha dias, da pra perceber a umidade na caixa da esquerda.E o interior sempre transpirando.Este apiário da foto será desativado dentro de mais uns 20 dias e transferido apar um local mais alto e seco, mas a umidade relativa do ar não tem solução, 80% ou mais.

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