sexta-feira, 23 de agosto de 2013

PRODUÇÃO DE MEL EM RISCO

23/08/13

Sumiço das abelhas chega ao interior de São Paulo e preocupa apicultores locais


Apicultores promovem uma campanha em defesa das abelhas e lançaram manifesto ontem pela internet



''Elas se perdem e morrem em pontos distantes, por isso que não se vê uma grande mortandade'' - Alcindo Alves, da Cooperativa de Apicultores de Sorocaba e Região - Arquivo JCS/Erick Pinheiro

Marcelo Roma
marcelo.roma@jcruzeiro.com.br






O desaparecimento das abelhas das colmeias, fenômeno conhecido como Desordem do Colapso das Colônias, chegou ao interior de São Paulo e preocupa apicultores da região de Sorocaba. O problema começou nos Estados Unidos e Europa e a principal suspeita é o uso de pesticidas nas plantações. As abelhas são responsáveis pela polinização de espécies vegetais. Cientistas analisam as possíveis causas do fenômeno e algumas teorias já foram cogitadas, como algum tipo de influência das antenas de telefonia celular ao estresse de as abelhas serem transportadas grandes distâncias dentro de caminhões. As abelhas somem e não deixam sinais.

O presidente da Cooperativa de Apicultores de Sorocaba e Região (Coapis) e da Federação das Associações de Apicultores e Meliponicultores do Estado de São Paulo (Faamesp), Alcindo Alves, participou de simpósio em Muzambinho (MG), na semana passada, em que foi discutido o sumiço das abelhas, entre outros assuntos de apicultura. Conforme Alves, a região de Sorocaba é produtora de mel e apicultores têm notado o desaparecimento de pequena parte, o que ainda não afetou comercialmente o setor. Ele avalia o problema como preocupante, pois casou prejuízos no Estados Unidos e outros países. O sumiço das abelhas não afeta só o setor apícola. Sem a polinização natural feita por elas, a agricultura de maneira geral seria prejudicada, pois Alves cita Sorocaba, Itapetininga, Capão Bonito, Itatinga e Botucatu como principais municípios produtores de mel na região.

No ano passado, apicultores somente de Sorocaba comercializaram 46 toneladas. Em 2012, a produção dos 292 cooperados da Coapis atingiu a marca de 420 toneladas. Em 2011 foram 360 toneladas, com aumento, portanto, de 16,8%. No Brasil e em específico no interior de São Paulo, as abelhas produzem mel em três épocas: em setembro, na chegada da primavera e com a florada da laranjeira; entre novembro e janeiro com a florada silvestre; e em fevereiro e abril, com o eucalipto.

As abelhas também polinizam outras culturas, como soja e trigo, que recebem defensivos agrícolas. Nos Estados Unidos, houve proibição de pesticidas mais tóxicos e que podem ter efeito nocivo sobre animais. "No Brasil, ainda se usa alguns que foram banidos em outros países", diz o presidente da Coapis. "Os biólogos que estudam o fenômeno dizem que as abelhas ficam desorientadas e não voltam para as colmeias. Elas se perdem e morrem em pontos distantes, por isso que não se vê uma grande mortandade", expõe Alves.

"Há dois anos e meio houve problema semelhante em Santa Catarina, que dizimou cerca de 90% das colônias. As abelhas, no entanto, não desapareceram. Foram encontradas mortas, em grandes quantidades", explica o presidente da Coapis. Ele ressalta que ainda não há uma causa cientificamente comprovada para o fenômeno de desaparecimento das abelhas, que se espalha por vários países. "Há possibilidades que estão sendo avaliadas e várias delas foram descartadas, como antenas de celular e ácaros." Além da suspeita de contaminação por agrotóxicos, outra possibilidade é a de uma doença ainda desconhecida.


A Faamesp e associações de apicultores promovem uma campanha em defesa das abelhas e lançou ontem um manifesto pela internet, disponível pelo site www.semabelhasemalimento.com.br. No texto, a Faamesp destaca que "as abelhas são responsáveis por 70% da polinização das plantas que fornecem alimentos, já constatado desde 1903, e o declínio e sumiço das colônias se agrava a cada ano." O manifesto cita que cientistas em todo o mundo discutem as possíveis causas do CCD, sigla em inglês do termo Colony Collapse Disorder, "entre elas a nosema, varroa, vírus, problemas com nutrição e principalmente o uso indiscriminado de agrotóxicos e pesticidas".

Notícia publicada na edição de 23/08/13 do Jornal Cruzeiro do Sul, na página 4 do caderno B - o conteúdo da edição impressa na internet é atualizado diariamente após as 12h.

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