Após 9 meses do envio de material para o IC, laudo não saiu
sobre a causa da morte de milhares de insetos em Lençóis
Após quase nove meses do envio de material para análise, o
laudo que poderá apontar o que causou a morte de milhares de abelhas, no final
de abril do ano passado, em Lençóis Paulista (43 quilômetros de Bauru), ainda
não ficou pronto. O fenômeno, que permanece um mistério, voltou a ocorrer e,
agora, o apicultor responsável pela denúncia inicial promete recorrer à Justiça
para descobrir qual a causa do problema.
O professor Celso Eduardo Jacon percebeu que suas abelhas
europeias e meliponinas (sem ferrão) estavam morrendo sem nenhuma razão
aparente em abril de 2011. A colmeia era cultivada por ele em uma propriedade
às margens da rodovia Osni Mateus (SP-261), na zona rural de Lençóis, para
efeitos de pesquisa e produção de mel. No total, aproximadamente dez colmeias
foram extintas.
Na época, o professor relatou que sítios vizinhos também
estavam enfrentando o mesmo problema e estimou que cerca de 40 colmeias haviam
sido extintas em apenas uma semana na região, o que representa média de seis
milhões de abelhas. Um boletim de ocorrência de dano foi registrado na
delegacia do município no dia 29 de abril e amostras de animais mortos e mel
foram enviados ao Instituto de Criminalística (IC) em São Paulo para análise.
Contudo, após quase nove meses de espera, Jacon revela que o
laudo que poderia indicar o que causou a morte das abelhas ainda não retornou à
delegacia e que o caso permanece um mistério. Ele acredita que as colmeias
foram envenenadas por defensivos agrícolas que são aplicados em lavouras de
cana-de-açúcar. "Eu gostaria de saber o que está acontecendo porque isso
está matando nós também", diz.
A Polícia Civil do município confirmou ontem que o laudo do
IC ainda não chegou à delegacia e que um ofício foi enviado ao órgão em São
Paulo cobrando o envio do resultado das análises. Ainda segundo a Polícia
Civil, o IC se comprometeu a enviar o laudo à delegacia no prazo de dez dias
para que as investigações possam ter início.
Sem ter a quem recorrer
O professor Celso Eduardo Jacon revelou que não sabe mais a
quem recorrer para solucionar o mistério em torno da morte das abelhas. Além do
registro do fato junto à Polícia Civil, na época em que o fato foi descoberto,
ele chegou a procurar a diretoria de Agricultura e Meio Ambiente de Lençóis,
mas o órgão não teria lhe dado retorno.
Orientado pelo advogado Benedito Antônio de Camargo, ontem,
Jacon registrou novo boletim de ocorrência na delegacia de Lençóis Paulista
para comunicar que a morte misteriosa de abelhas criadas por ele para
monitoramento voltou a ocorrer, desta vez na região onde mora, na área urbana
do município.
Antes, ele chegou a participar de reunião na Coordenadoria
de Assistência Técnica Integral (Cati) em Bauru, órgão vinculado à Secretaria
de Estado de Agricultura e Abastecimento, onde foi orientado por apicultores a
pagar pela realização do exame nas abelhas mortas.
O professor revela que entrou em contato com a Casa da
Agricultura em Lençóis, mas que o órgão disse que não pode fazer nada.
"Que raio de Secretaria de Agricultura que nós temos nesse país que não
oferece essas condições para os produtores?", questiona. Agora, ele diz
que pretende recorrer à Justiça para descobrir a causa da morte das colmeias.
O advogado de Jacon informou que, na próxima segunda-feira,
vai levar o problema ao conhecimento da prefeita da cidade, Izabel Cristina
Campanari Lorenzetti (PSDB), para que o município ajude a solucionar o fato.
Morte de abelhas em Iacanga
Em agosto de 2010, apicultores da região de Iacanga (50
quilômetros de Bauru) detectaram a morte de 250 colmeias em diversas fazendas.
Até o final do ano, foram contabilizadas aproximadamente 8 milhões de abelhas
mortas, que resultaram em prejuízos estimados em R$ 50 mil. O caso foi denunciado
ao Jornal da Cidade pelo então presidente da Associação Bauruense de
Apicultores Meliponicultores e Ambientalistas (Abama), Guilherme Carlos de
Oliveira Telles Nunes. A suspeita, segundo ele, era de que as abelhas tivessem
morrido em decorrência de contaminação por Fipronil, agrotóxico de uso
controlado – conhecido como Regent – que não pode ser aplicado em citrus, mas
estaria sendo utilizado em plantações de laranja nas imediações das
propriedades onde ficavam as colmeias. O caso também foi denunciado na
delegacia de polícia de Iacanga, Polícia Ambiental e Casa da Agricultura da
cidade.
No dia 17 de agosto, três produtores contrataram o advogado
Alexandre Abdala, que levou o caso à Promotoria de Justiça de Ibitinga. Por
meio de ação cautelar, Abdala conseguiu autorização para que fossem colhidas
amostras da plantação de laranja de uma fazenda onde um funcionário teria
confirmado o uso do Fipronil na florada da fruta. Análises feitas por
laboratório de Piracicaba confirmaram a presença do agrotóxico na plantação.
No início de 2011, o delegado de Iacanga, Doniseti José
Pinezi, concluiu as investigações sobre o caso e relatou o inquérito ao Juízo
de Ibitinga pedindo a responsabilização do dono da propriedade onde foi
aplicado o Regent por crime ambiental. Em depoimento, ele negou ter usado o
produto no laranjal, mas o delegado ressaltou que se baseou em laudos
documentais e testemunhais para solicitar sua condenação.
Fonte: JCNET, publicada em: 14/01/2012
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